Achille-Claude Debussy nasceu a 22 de agosto de 1862, em Saint-German-en-Laye, cidade situada nas proximidades de Paris. À época do nascimento de Claude, Manuel Achille Debussy e Victorine Josephine Sophie Manoury, seus pais, viviam dos parcos recursos proveniente da exploração do comércio de porcelanas.
Em 1867 instalaram-se em Paris, onde Manuel-Achille, de emprego em emprego acabaria se fixando. Aventureiro e não muito responsável, foi sempre um pai negligente, que parecia ter submergido à personalidade autoritária e irascível de sua esposa Victorine, costureira e mãe de cinco filhos, dos quais Claude era o primogênito. A precária educação das crianças foi confiada a uma irmã de Manuel Achille, Clémentine Debussy. Apenas Claude teve o triste privilégio de ser educado pela mãe, mulher que jamais suspeitou de sua natureza excepcional. A educação que transmitiu a Claude se limitou aos rudimentos de leitura, escrita e noções de cálculo. Nunca freqüentou a escola. Autodidata, chegou a tornar-se um homem culto, embora revelasse algumas lacunas em sua formação.
Passando uma temporada com a tia Clémentine, sua madrinha, em Cannes, ainda menino, recebeu ali as primeiras aulas de piano. E por volta de 1871 conheceu Madame Mauté de Fleurville, ex-aluna de Chopin, que depois de ouvir o menino ao piano, incentivou-o a seguir carreira, predispondo-se a dar-lhe aulas gratuitamente.
Chopin tornou-se, para ele, um dos grandes modelos a serem seguidos em sua obra. Menos de dois anos foram suficientes para que o jovem se apresentasse ao concurso de ingresso no Conservatório de Paris, em outubro de 1872. Debussy contava dez anos ao entrar para a classe de piano de Marmontel. Mas o professor diria depois: "Ele não se interessa muito pelo piano, mas adora música".
Mas os anos seguintes foram marcados pôr dissabores provocados pela incompreensão de seus professores de harmonia e acompanhamento, Durand e Bazille. O temperamento independente de Debussy não se adaptava à disciplina arbitrária, pouco flexível e ao ensino acadêmico imposto no conservatório.
Alguns insucessos em concursos de piano e um primeiro prêmio em harmonia levaram-no a abandonar o projeto de vir a ser um concertista, dirigindo-se para o terreno da composição. Datam de 1876 as primeiras composições, nascidas de improvisações ao piano.
Por esta época, Debussy era um jovem de estatura mediana,atarracado, pálido e com os cabelos sempre em desalinho, talvez para encobrir um defeito de nascença que tinha no alto da testa. Reservado, era pouco sociável e não muito querido pelos colegas.
O ano de 1882 marcou a primeira aparição pública de Debussy em concerto , como pianista-acompanhador de Blanche Vasnier, cantora que se revelou intérprete ideal das primeiras canções do compositor.
Em 1884 recebe o Grande Prêmio de Roma em composição.Debussy chegou à capital italiana em janeiro de 1885. Estava com 22 anos. E os três anos seguintes ele os passaria estudando na Villa Medici, às expensas do Estado, com o compromisso de compor anualmente uma partitura, enviando-a a Paris, para ser examinada pelos professores do conservatório.
A permanência em Roma foi penosa. Tudo o desagradava: o clima da cidade, a disciplina, os colegas. Pensou por várias vezes em desistir. Nas horas vagas lia muito. Gostava também de tocar Bach ao piano, bem como Tristão e Isolda, cuja partitura passava horas a estudar, descobrindo um novo universo sonoro.
Durante suas férias vai a Paris ou para Fiumicino, cidade a beira mar onde morava um amigo. Mas as férias não o ajudavam a suportar Villa Medici. Suas únicas lembranças musicais agradáveis foram os contatos com os compositores Leoncavallo, Arrigo Boito, Liszt, e Paul Vidal.
Retorna a Paris em 1887, entrando em contato com a avant-gard artística e literária. Travou conhecimentos com inúmeras personalidades dos círculos literários parisienses. Mas não apreciava a companhia de outros músicos. Sua aversão era tamanha que preferia esconder sua condição de músico, a ponto de identificar-se, uma vez, como jardineiro.
Há quem veja nessa excentricidade de comportamento uma crítica à música francesa da época, da qual Debussy só amava em profundidade, Jules Massenet.
Viaja para Bayreuth, em 1888 e 1889, para assistir a Parsifal, Os mestres Cantores e, finalmente, Tristão e Isolda. Depois do impacto causado pelas óperas de Wagner, Debussy ficaria muito impressionado com a música oriental (javanesa, chinesa e anamita), por ocasiãoda Exposição Universal de 1889 em Paris.
Apesar de nestes anos continuar morando com os pais, quase nunca era encontrado em casa. Esta fase - conhecida como "período boêmio" - foi importante para seu amadurecimento enquanto homem e artista. É também a época que se iniciam as primeiras amizades sólidas, bem como inúmeras aventuras amorosas mais ou menos sérias. A relação mais duradoura foi com Gabrielle Dupont (Gaby), comerciaria e companheira fiel destes anos difíceis. Data desta época uma obra que se tornaria muito famosa: a Suíte Bergamasque, que contém o célebre Clair de Lune. Nesta época Debussy já havia rompido com o Conservatório de Paris, com Roma, com a música oficial...
Em condições financeiras precárias, Debussy vivia dos rendimentos provenientes de poucas aulas de piano e de algumas transcrições. Em 1892 Debussy começou a compor o Prélude à Aprés-Midi dun Faune (Prelúdio para a Tarde de um Fauno), partitura concluída dois anos depois e considerada sua primeira obra prima.
Em 1892 - aos trinta anos - graças a uma relativa folga financeira, Debussy saiu da casa dos pais, transferindo-se para um pequeno sótão, juntamente com Gabrielle Dupont.
O primeiro concerto inteiramente dedicado a Debussy teve lugar em Bruxelas, em 1894, durante uma exposição de quadros impressionistas e art-nouveau.
Concentrado na elaboração da ópera Pelléas et Mélisande, Debussy encontrava distração na boêmia dos cafés parisienses e na elaboração de partituras pequenas.
Esta rotina de vida seria quebrada em 1897, pôr um pequeno drama familiar: cansada de tantas privações e traições ( Debussy distraia-se também com romances...) Gaby tentou o suicídio. Em princípio de 1899, houve a separação definitiva.
A 19 de outubro de 1899 casou-se com Rosaline (" Lily") Texier, moça simples, jovem e elegante que trabalhava como modelo em uma casa de modas parisiense. Não possuía nenhuma cultura musical.
A morte do editor Georges Hartmann, em maio de 1900, viria abalar a situação financeira do casal. Pois, de uma hora para outra, deixou de existir a única fonte regular de renda. O compositor teve que contar com a generosidade de seus amigos para a sua subsistência.
O impacto causado pela apresentação de Pelléas, em 1902, alteraria a evolução de sua carreira. Após a apresentação da ópera, Debussy tornou-se uma figura polêmica, incensado pelos vanguardistas, que o apontavam como o "chefe de uma nova escola", o "criador de um sistema", ao mesmo tempo que era criticado pelos mais conservadores.
A contragosto, Debussy viu-se transformado em celebridade. A apresentação de Pelléas et Mélisande significou a sua consagração oficial como compositor.
Em junho de 1904, Debussy abandonou Lily, indo viver com a cantora Emma Bardac, mulher culta e inteligente, casada com um banqueiro. Não suportando o duro golpe, Lily tentou o suicídio em outubro... Foi um escândalo. Sem se importar com as críticas, Debussy e Emma continuaram juntos, obtiveram os respectivos divórcios e foram morar em uma bela mansão.
No outono de 1905, nasceu a única filha do casal, Claude-Emma, a quem Debussy chamava carinhosamente de Chouchou. E foi para ela que o dedicado pai comporia, alguns anos mais tarde, a suíte Childrens Corner ( O Cantinho das Crianças), para piano.
Foi no decorrer deste período que Debussy compôs alguns importantes trabalhos: LIsle Joyeuse ( A Ilha Alegre - 1904), Masques (Máscaras - 1905), a primeira série de Images (Imagens - 1905), todas para piano: a segunda série de Fêtes Galantes (para voz e piano - 1904) e La Mer (1905), para orquestra.
Em janeiro de 1908, Debussy e Emma se casaram. Nesta mesma época tiveram início as longas tournées de concertos que o levariam, nos últimos dez anos de existência, aos principais centros da Europa. Em janeiro de 1909, quando se preparava para reger uma segunda vez em Londres ( a primeira vez fora em 1908), Debussy foi acometido por sérios distúrbios digestivos seguidos de hemorragias gástricas. Foram os primeiros sintomas do que seria diagnosticado como câncer. Pouco tempo depois Debussy retornaria a rotina de concertos e tournées; atividades que eram entrecortadas pela produção de novas obras.
"Festivais Debussy", organizados na França e em outros países europeus, levaram-no a apresentar-se na Rússia, Itália, Holanda, Bélgica e Inglaterra.
Com a eclosão da I Guerra Mundial em agosto de 1914, teve início, para Debussy, um período de grande improdutividade de quase um ano.
Logo após começa uma intensa atividade criativa.Em rápida sucessão surgiram os Doze Estudos En Blanc et e Noir - série de peças para dois pianos - e duas sonatas de câmara, uma para piano e violoncelo e outra para flauta, viola e harpa.
Mas este período de criação logo teria um fim com o agravamento de sua saúde. O último concerto foi em Saint-Jean de Luz, no verão de 1917, quando executou juntamente com o violinista Gaston Poulet, a sonata para violino e piano - sua derradeira obra.
Faleceu na noite de 25 de março de 1918.
A MÚSICA DE DEBUSSY
O Impressionismo de Debussy residia no caráter vago de seus jogos harmônicos em que a melodia parece dissolver-se. A melodia libertou-se dos padrões tradicionais, das repetições e cadências rítmicas.
Debussy não seguiu também as regras de harmonia clássica: deu importância à acordes isolados, aos timbres, pausas e contrastes entre registros.
De um modo geral, sua obra pode ser dividida em música para orquestra, música de câmara e para instrumento solo, música para piano e obras cênicas.
Obras para Orquestra: A música orquestral de Debussy é a que melhor corresponde à imagem de impressionista. Os Noturnos, La Mer e Images pour Orchestre pareciam confirmar a imagem do músico vago, cujas melodias não tinham contorno definido. O efeito disto era uma nova e estranha sonoridade.
Música para o Piano: É uma sessão importante na obra de Debussy. São conhecidas as coleções Suíte Bergamasque, Estampes, Images, os 12 Prelúdios I e II e os Estudos I e II.
Da Suíte Bergamasque aos Estudos a evolução é marcante: os títulos poéticos desaparecem.
No último período a música pianística se torna mais abstrata como também mais áspera, na pesquisa de novos timbres.
Obras cênicas: Em 1902 a estréia da ópera Pelléas et Melisande causou estranheza: continha muito texto declamado. Nela Debussy voltou-se contra a tradição dramática de Berlioz e Wagner. O Martírio de São Sebastião é uma ópera ainda mais insólita.
Da mesma época é a música para balé Jeux ( 1912 - Jogos), obra de supreendentes inovações e de grandes complexidades harmônicas.
Influências: A música inovadora de Debussy agiu como um fenômeno catalisador de diversos movimentos musicais em outros países. Na França só se aponta Ravel como influenciado,mas só na juventude, não sendo propriamente um discípulo.
Influenciados foram também Bartók, Manuel de Falla, Villa-Lobos e outros.
Bibliografia
Enciclopédia Mirador
Mestre da Música - Abril Cultural
Renata
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