ROBERT SCHUMANN

 

Robert Schumann Robert Alexander Schumann nasceu a 8 de junho de 1810, em Zwickau, Saxônia, Alemanha. No mesmo ano, Beethoven chegava aos quarenta anos, Schubert contava treze, Mendelssohn, apenas um; nascia Chopin. Liszt nasceria no ano seguinte.

O pai do compositor, Friedrich August Schumann ganhava a vida como livreiro. Mas suas atividades preferidas eram devorar os livros de sua livraria, traduzir os poemas de Byron e escrever novelas góticas. Sua mãe, Johanna Christina Schumann , era quem, de fato, dirigia a livraria. Schumann, o caçula, tinha quatro irmãos: Eduardo, Carlos, Júlio e Emília.

Sobre a educação de Robert, sabe-se que, aos seis anos ingressou na escola primária e que aos dez anos foi transferido para o Liceu de Zwickau, onde permaneceu até 1828. No curso secundário, apreciava, sobretudo, o grego e o latim. Os autores antigos, de Homero a Tácito, passando pôr Platão e Sófocles, ele os conhecia profundamente. Contudo, mais decisivos para a sua formação foram o hábito de ler (os livros da livraria), e os contatos com os intelectuais que se reuniam com seu pai - na livraria...

Leitor insaciável, Robert devorou os poetas e novelistas românticos, mas sua preferência recaía sobre o mais modesto e obscuro poeta alemão, Jean-Paul Richter, que exerceu profunda influência sobre Schumann. Jean-Paul foi um dos percursores da tensão entre os opostos que caracterizou o Romantismo. Todos os jovens poetas o idolatravam e Schumann o venerava: "Se todos lessem Jean-Paul, seríamos melhores (...)"; " Schubert será sempre o meu único porque tem tudo em comum com o meu único Jean-Paul". Neste período Schumann escreveu muito, sempre sob a influência de Jean-Paul: poemas, cartas, novelas se sucediam, criando-lhe uma angustiante necessidade de opção: ser poeta ou músico?

O despertar de seu talento musical ocorreu cedo. Aos sete anos seu pai providenciou para que o menino estudasse com Johann Kuntzsch, autodidata que lecionava no liceu e tocava órgão na igreja de Santa Maria. Não era um grande músico, mas serviu para estimular o futuro compositor. Meses mais tarde, Robert já escrevia pequenas danças.

Aos nove anos, o pai levou-o a um recital do grande pianista Moscheles.O acontecimento causou-lhe profunda e duradoura impressão.

Aos doze anos formou um pequeno conjunto com seus amigos de escola (dois violinos, duas flautas, duas trompas e um clarinete) para tocar na escola e nas casas de família.

Quando tinha quinze anos, Kuntzch reconheceu nada mais ter a lhe ensinar. Em vista disso, seu pai pediu ao compositor Weber para aceitá-lo como aluno. Mas,ocupado com sua ópera Oberon, não pôde atender o pedido. Pouco depois da negativa de Weber, uma tragédia se abateu sobre a família: em 1826, sua irmã Emília, mentalmente enferma, suicidou-se num acesso de loucura. O pai, cuja saúde não caminhava bem, não teve forças para suportar o choque e faleceu no mesmo ano. De um só golpe, o jovem Schumann perdia sua irmã, que amava ternamente, e seu pai, seu mais fiel amigo. Profundamente abatido, entregou-se à melancolia, à passividade, a pressentimentos mórbidos.

Mas ele precisava continuar seus estudos e desenvolver musicalmente.Quanto ao primeiro ponto, sua mãe decidiu que ele deveria cursar direito. Assim, em 1828, Schumann ingressou na Faculdade de Direito de Leipzig. Quanto à música, o compositor tornou-se aluno de Friedrich Wieck, um famoso professor de piano, e pai de Clara, uma talentosa menina de nove anos, virtuose do piano.Em Schumann, logo após conhecê-lo, depositou grandes esperanças.

Em pouco tempo de estudos, o progresso realizado com Wieck e a forte impressão que lhe causou um recital de Paganini (1830) mergulharam o jovem em uma nova dúvida: ser artista ou advogado? " Minha vida tem sido uma luta entre a poesia e a prosa, ou, se quiseres, entre a música e o direito. Agora estou em uma encruzilhada e a questão ‘para onde ir’me assusta".Essas palavras foram endereçadas à mãe, deixando-a muito preocupada com a possibilidade de o filho abandonar a faculdade. Consultado pela mãe, Wieck disse-lhe:

"Comprometo-me, minha senhora, a fazer de seu filho Robert, em menos de três anos, graças ao talento e à imaginação que ele tem, um dos maiores pianistas vivos, mais espiritual e ardoroso que Mocheles, mais magnífico que Hummel."

Diante estas palavras, sua mãe permitiu que ele optasse pela música. Nos meses seguintes, surgiram as primeiras obras primas de Schumann: Variações sobre o Nome Abbeg, Papillons. No estudo de piano, seu progresso era enorme; seria um virtuose. No entanto, um drama profundo o aguardava.

Para desenvolver sua técnica pianística, Schumann teve a infeliz idéia de imobilizar o dedo médio da mão direita com o uso de uma ligadura, a fim de tornar independente o dedo anular. Foi um desastre: na primavera de 1832, o dedo imobilizado se tornou paralítico para sempre. De médico em médico, de charlatão em charlatão, o compositor, dois anos depois, ainda procurava solucionar o problema. De nada adiantaram seus esforços. A história da música, no entanto, saiu ganhando: morrendo o intérprete, só lhe restava a via da criação.

Desfeito o seu sonho de ser pianista, Schumann voltou-se para a composição e à crítica musical. Em 1834 escreveu sua obra prima para o piano Carnaval , Opus 9 e os Estudos Sinfônicos ,Opus 13. Como crítico musical, fundou um jornal ,A Nova Gazeta Musical, cujo primeiro número foi publicado em 1834. Seus redatores (Schumann - diretor e mais assíduo colaborador - Wieck, Schuncke, Lyser, Hiller, Mendelssohn, Wagner) formavam a Associação dos Amigos de David .Escrevendo sob pseudônimos, os Davidsbündler (Companheiros de David) investiam contra os reacionários "filisteus", que barravam novos talentos musicais, como Chopin e Mendelssohn. As múltiplas facetas do compositor apareciam na revista sob os nome de Florestan, o impetuoso, e Eusebius, o tranqüilo.

Durante dez anos, Schumann dedicou parte importante de seu tempo à tarefa ambiciosa de dirigir a atenção do público para a verdadeira obra de arte, lutando contra o esclerosamento e o pedantismo da crítica vigente.

Schumann conheceu Clara Wieck muito antes de se apaixonar pôr ela. Em 1828, quando Clara tinha apenas nove anos e já era uma notável pianista, Schumann teve o primeiro contato com sua família. Em 1830, quando optou pela música, Schumann foi morar na casa dos Wieck e o seu contato com Clara, então com onze anos, tornou-se cotidiano.

Em abril de 1835, contando dezesseis anos, Clara retornava de Paris, após uma de suas inúmeras excursões como pianista. Mais tarde, em carta à própria Clara, o compositor relataria o que sentiu quando foi recebê-la: "Você me pareceu mais crescida, mas estranha.Já não era mais uma criança com a qual eu pudesse rir e brincar; você dizia coisas sensatas e vi brilhar em seus olhos um secreto e profundo raio de amor".O que se seguiu foi uma forte ligação, que cresceu pôr toda a vida.

O amor entre Robert e Clara despontava definitivamente. Ele tinha 25 anos; ela, apenas dezesseis. Todavia, Friedrich Wieck, certamente guiado pelo egoísmo próprio de um pai de uma criança prodígio, opôs-se logo desde o início ao romance entre sua filha e seu melhor aluno.Wieck de forma alguma admitia que sua filha se casasse, tivesse filhos, fosse uma mulher comum. Para ele, Clara era um gênio musical, uma criatura fora dos padrões de normalidade burguesa, que feneceria se tivesse que viver com qualquer um. Por isso, passou ao ataque: mandou Clara para Dresden e proibiu-a de se comunicar com compositor, fosse de que maneira fosse. Programou um maior número de apresentações para a filha, sempre fora de Leipzig. Como se não bastasse, chegou a espalhar calúnias sobre o compositor: bêbado inveterado, homem volúvel com as mulheres, vagabundo incurável, filho de uma família mentalmente insana, e outros ‘elogios’deste tipo.

O conflito durou quatro longos anos, culminando com uma demanda judicial, em que Schumann solicitava às autoridades permissão para o casamento, não obstante a oposição do pai da noiva. Finalmente, o compositor ganhou a causa e, a 12 de setembro de 1840, casou-se com Clara. Apesar de todo o desgaste que o conflito com Wieck lhe causava, Schumann não deixava de lado o trabalho criativo. Destes anos conturbados são suas obras: Cenas Infantis, Arabesques, Novellettes, Carnaval de Viena, Blümenstück, os lieder dos ciclos Myrthen, Liederkreis, Frauenlibe und Leben e Dichterliebe, além de dezenas de outras canções.

Depois de casados, a ligação entre Clara e Robert manteve-se intensa e profunda. Oito filhos e todos os problemas de uma família normal não impediram que os dois trabalhassem

ativamente: ele compondo e ela se apresentando nos principais centros europeus. Devido a sua carreira de concertista, Clara gozava de muito maior renome do que ele. Tratado muitas vezes como "marido de Clara Wieck", isso chegou a lhe causar um certo abalo, mas nunca a ponto de prejudicar seu relacionamento com a esposa.

Como compositor, os anos seguintes da carreira de Schumann foram marcados por seu interesse em dominar outros gêneros que não o pianístico. Estimulado pôr Clara, Liszt e outros amigos, criou várias partituras camerísticas, uma ópera (Genoveva), a música incidental para o Manfredo, de Byron, e para o Fausto, de Goethe, além de três sinfonias , o Concerto para Piano e Orquestra em lá Menor, e o Concerto para Violoncelo e Orquestra, entre outras obras.

Seu ritmo de trabalho, normalmente muito intenso, às vezes tornava-se frenético. Disso resultariam algumas crises nervosas muito sérias, como ocorreu no início de 1843, em julho de 1844 e em 1847. Mas estas crises não seriam senão o prelúdio de algo mais grave: a loucura que marcaria seus últimos anos.

Em 1851, ocupando o cargo de diretor de orquestra em Düsseldorf, Schumann teve graves problemas com os músicos, devido a sua estabilidade emocional. Em 1853, começa a ter alucinações auditivas, ouvindo incessantemente a nota "lá"; a isso juntavam-se a dificuldade de fala e a melancolia.

No início do ano seguinte, as alucinações tornam-se cada vez mais freqüentes e, nos momentos de lucidez, é tomado pelo temor de se tornar completamente louco. A obsedante nota "lá"se tranforma em música, música descrita pôr Schumann como "a mais maravilhosa e executada pôr instrumentos que ressoam tão esplendidamente como jamais se ouviu".

Atormentado e insone, na noite de 17 de fevereiro de 1854, levanta-se repentinamente de sua cama para escrever um tema ditado por anjos que via ao seu redor. Mas, aos poucos, essas figuras celestiais se transformam em demônios em forma de hiena e de tigre. E essas novas visões são acompanhadas de uma música tenebrosa e assustadora. Pede então para ser internado num asilo de alienados. Poucos dias depois, a 27 de fevereiro, tenta o suicídio, atirando-se às águas do rio Reno. Salvo por barqueiros, é conduzido ao asilo de Endenich, próximo de Bonn.

Os pesquisadores Eliot Slater, Alfred Meyer e Eric Sams afirmam que a demência de Schumann seria decorrente de uma mal curada sífilis terciária, que o próprio compositor admitiu ter contraído em seus anos de juventude.

De Endenich, Schumann jamais sairia. Proibido de encontrar a esposa, recebe freqüentemente a visita de amigos. Para Clara, envia cartas que testemunham o seu amor até o fim: "Oh! se eu pudesse te rever, falar-te mais uma vez". A 23 de julho de 1856, cessa toda a alimentação. Chamada às pressas, Clara testemunha seus últimos momentos de consciência: "Ele me sorriu e com grande esforço me enlaçou em seus braços.Eu não trocaria esse abraço por todos os tesouros do mundo".

A 29 de julho, o compositor expira, aos 46 anos.

 

Bibliografia

Mestres da Música - Abril Cultural

Enciclopédia Salvat dos Grandes Compositores - Editora Salvat

Voltar aos Compositores    Homepage

Renata Cortez Sica Copyright © 1999 / 2000
Todos os direitos reservados  Araras, SP - Brasil