(La Côte-Saint-André, França 1803 - Paris, França 1869)
Louis-Hector Berlioz nasceu na França, em La Côte-Saint-André, pequena cidade do condado de Dauphiné, a 11 de dezembro de 1803. Descendente de abastada família, cresceu sob o eco das vitórias de Napoleão Bonaparte e recebeu educação inspirada nos ideais de Rousseau. Neste contexto, o carinho e a sabedoria paternos guiaram-se por caminhos onde a liberdade era um dado natural. Esses primeiros anos de vida favoreceram, portanto, a definição de seu temperamento apaixonado, indócil e voltado para a ação.
Iniciou seus estudos de música com seu pai, o médico Louis Berlioz, que lhe ensinou solfejo e o presenteou com uma flauta. Hector completou sua educação geral em casa, orientado por seu pai, que o conduziu no estudo de línguas, literatura, história, geografia e música. Pode-se dizer que Hector foi um autodidata guiado por um homem culto, pois circulava à vontade na grande biblioteca de seu pai, onde a liberdade de escolha era a regra natural.
O cotidiano era confortável, organizado e monótono, Hector dividia suas horas entre os estudos com o pai, as traduções dos poemas de Virgílio e as lições de flauta e guitarra. Em 1812 terminou sua educação básica e estava apto para frequentar a universidade.
Partiu para Paris, onde iniciou o curso de medicina, mas logo descobriu sua verdadeira vocação: ser um músico. Procurou um mestre famoso em sua época, o professor Lesueur. Assim, quase dois anos depois da chegada em Paris, Berlioz começou a compor e, em seguida, a escrever artigos polêmicos contra as óperas de Rossini. Era o início de sua carreira de músico e jornalista; pouco se dedicada à medicina.
Em 1826 estudou composição com Lesueur e contraponto e fuga com Reicha. Nesta época, inscreveu-se em todos os concursos de composição para o grand Prêmio de Roma: em 1825, foi simplesmente desclassificado; em 1827, sua cantata Orphée Déchiré par les Bacchantes foi considerada inexecutável; em 1828, obteve o segundo lugar - sem prêmio; em 1829, estava seguro de vencer desta vez, mas o prêmio foi cancelado. Finalmente, em 1830, com A Morte de Sardanapalo, ganhou o primeiro lugar, com direito à pensão mensal e o dever de estudar dois anos na Villa Medici, em Roma. É, desta época, sua famosa Sinfonia Fantástica.
Em 1833, casa-se com Harriet Smithson, atriz irlandesa; um ano após nascia Louis, seu único filho. A felicidade conjugal foi breve, massacrada pelas dívidas e pelo temperamento de Harriet. Para superar as dificuldades econômicas, Berlioz lançou-se à crítica musical, escrevendo artigos para o Rénovateur, na Gazette Musicale, e não tardou a se impor como jornalista.
Compunha sem cessar e endividava-se com a execução de suas obras. A nomeação, em 1838, para o cargo de subsecretário do Conservatório de Paris veio lhe assegurar maior renda. E, em um concerto que realizou no fim do mesmo ano, foi aclamado por Paganini que, mais tarde, enviou-lhe um cheque de 20.000 francos - na época uma pequena fortuna. Em 1839, recebeu a Cruz da Legião de honra, que testemunhava o seu prestígio.
Berlioz compôs e lutou com vigor inesgotável, sem nunca transigir; obteve o aplauso de alguns de seus contemporâneos mais rspeitáveis, como Liszt, Schumann e mesmo Wagner, e dos auditórios mais versados. No entanto, conheceu poucos e efêmeros momentos de absoluto sucesso, porque sua irreverência, ousadia e novidade causavam espanto. Nesse sentido, a liberdade de Berlioz ameaçava valores até então consagrados.
Entre 1842 e 1846, Berlioz viajou a Bruxelas, principais cidades da Alemanha, Áustria, Hungria, chegando a Praga. Por sugestão de Balzac, partiu para a Rússia, no início de 1847, em busca de algum sucesso. Realmente o conseguiu, e seu retorno foi maldosamente anunciado nos jornais como " a volta de Mr. Berlionovsky". Em Paris, a situação não era melhor, sobretudo pelos movimentos políticos de 1848. Harriet estava paralítica, vítima de um ataque de apoplexia e seu filho Louis trocara os estudos pelas aventuras marítimas.
Berlioz procurava escapar aos desgostos e impor sua música. No início de 1850, fundou, com um grupo de amigos, a Sociedade Filarmônica. Paris estava dominada por recitais de virtuoses, óperas-cômicas, coisas insignificantes. Berlioz adoecera, sentia-se consumido. Com a morte do pai herdara o suficiente para usufruir de certa tranquilidade financeira. Em 1854, morre sua esposa Harriet. Casa-se com Marie Recio, cantora sem talento.
Sua saúde instável obrigava-o a temporadas anuais na estância termal de Baden, que se sucederiam de 1856 a 1864. O período que estendeu de 1857 a 1862 foi de pouca produtividade musical. Predominavam as decepções diante de salas quase vazias e insucessos nos cargos que almejava no conservatório. Mas a maior dor vinha de suas das preocupações e desentendimentos com Louis, que herdara seu temperamento. E, em junho de 1862, morria Marie, vítima de crise cardíaca.
Viúvo novamente, sexagenário, magoado, Berlioz pareceu vacilar. Após o sucesso de Os Troianos, o compositor deu por encerrada sua carreira. Retirou-se da crítica musical e passou a escrever suas Memóries, que publicaria em 1865. Em 1867 recebe a notícia da morte de Louis, que o aniquila. Neste mesmo ano viaja novamente para a Rússia, para reger uma série de cinco concertos. No pódio, sente-se rejuvenescer ainda mais uma vez, mas a viagem e o frio o extenuam, e o compositor sofre duas congestões cerebrais. Morre no dia 8 de março de 1869 e é enterrado com honras nacionais. Mas não se tocava sua música em parte alguma.
Seduzido tanto pela música de programa quanto pela orquestral, colocou "o drama na sinfonia e a sinfonia no drama" (Romeu e Julieta, 1839). A sua Sinfonia Fantástica assinala o verdadeiro início do poema sinfônico. Berlioz interessou-se pela música instrumental (Les nuits d'éte), pelo teatro lírico (A Danaçao de Fausto, 1846; Benvenuto Cellini, 1838; Os Troianos, 1855-58), pelas possibilidades expressivas da viola (Haroldo na Itália, 1834), e por uma música religiosa fulgurante (A grande missa dos mortos, 1837), ou intimista (A infância de Cristo, 1854). Sua orquestração colorida e inovadora marcou todo o século XIX (Grande Tratado da Instrumentação e Orquestração Modernas, 1844). Suas obras tiveram muito sucesso no exterior, principalmente na Alemanha e Rússia, onde o compositor esteve diversas vezes. Os textos escritos por Berlioz constituem uma importante fonte de informações sobre sua época.
Bibliografia
Mestres da Música - Abril Cultural
Grande Enciclopédia Larousse Cultural
Renata
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